O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em junho de 2022, trouxe pelo menos uma notícia positiva, a queda de 6,5% no número de homicídios. Apesar do país ainda figurar entre os mais violentos do mundo, tivemos 47.503 assassinatos em 2021; 22,3 mortes violentas por cada 100 mil habitantes. Destes, 91% foram de homens, 78% de negros e 51% de jovens.
Mas (sempre tem um ‘mas’), aumentou 24% o número de assassinatos cometidos com revólveres, pistolas e garruchas (armas de fogo de mão), que são enquadradas de forma diferente das de maior calibre (espingardas ou fuzis, por exemplo). As mortes violentas decorrentes de todos os outros meios de agressão diminuíram.
Mais um número inadmissível é sobre o crime de estupro. A cada oito minutos (sim, OITO MINUTOS) acontece um estupro no Brasil. 85,7% das vítimas são mulheres e as com menos de 13 anos de idade já representam 57,9% do total. Os casos em que o abusador é próximo dela ou da família da vítima representam 84,1%.
Questão racial
Os dados confirmam também que pessoas negras representam a maior parte das vítimas de uma série de crimes violentos. 78% de negros contra 21,7% de brancos. No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56% da população é negra.
Nas mortes causadas pela polícia o número é um pouco maior: 84% foram de negros; um aumento de 5,8% comparado a 2020.
Quando as vítimas são também policiais (civis e militares), 67,7% eram negros.
Entre as vítimas de feminicídio, 62% são negras e 37,5% são brancas.
Estupros
Em 2021, mais de 30 mil meninas de até 13 anos de idade foram vítimas. Esse é o número oficial, já que o número real estimado pelo anuário é de quatro vezes mais, ou seja, 289 mil!
Já quando ambos os gêneros entram no cálculo, o número é de 35.735 registros no ano passado. Somando todas as faixas etárias temos o número assustador de 66.020 casos (de estupro e estupro de vulnerável). Estupro de vulnerável é quando a vítima tem menos de 14 anos ou não pode consentir nem resistir a ação (quando está embriagada ou tem alguma deficiência, por exemplo).
9 em cada 10 casos de violência sexual têm mulheres como alvos.
Estelionatos
O número de casos de estelionato no Brasil praticamente triplicaram no ano passado! Ao todo, 1.265.073 casos! É muita coisa! Em 2018, para se ter uma ideia, aconteceram 426.799!
Capitais MAIS e MENOS violentas do Brasil 2022:
Eis o ranking das capitais, de acordo com a taxa de mortes para cada 100 mil habitantes; da mais para a menos violenta, de acordo com os números de 2021, divulgados em junho de 2022:
Macapá – 63,2 mortes por cada 100 mil habitantes
Salvador – 55,6
Manaus – 52,5
Teresina – 37,0
Boa Vista – 34,8
Fortaleza – 34,3
Recife – 33,1
Porto Velho – 32,4
Maceió – 29,8
Aracaju – 29,4
João Pessoa – 28,1
Natal – 24,0
Rio Branco – 23,1
São Luís – 22,8
Palmas – 22,3
Belém – 22,3
Vitória – 21,1
Porto Alegre – 20,0
Rio de Janeiro – 19,2
Curitiba – 16,7
Goiânia – 16,6
Campo Grande – 15,3
Distrito Federal – 11,2
Florianópolis – 10,8
Belo Horizonte – 10,8
Cuiabá – 10,6
São Paulo – 7,7 mortes por cada 100 mil habitantes
Cidades mais violentas do Brasil 2022:
E aqui as cidades com as maiores taxas de mortes violentas do Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, com base no índice de mortes violentas intencionais, de 2019 a 2021, para cada 100 mil habitantes, mesmo que a população de todos esses municípios seja menor do que 100 mil pessoas:
1º. São João do Jaguaribe (CE) 224,0 mortes violentas por cada 100 mil habitantes
2º) Jacareacanga (PA) 199,2
3º) Aurelino Leal (BA) 144,2
4º) Floresta do Araguaia (PA) 133,0
5º) Umarizal (RN) 123,6
6º) Guaiúba (CE) 121,8
7º) Jussari (BA) 120,9
8º) Rodolfo Fernandes (RN) 119,6
9º) Extremoz (RN) 118,7
10º) Aripuanã (MT) 118,7
11º) Chorozinho (CE) 118,4
12º) Japurá (AM) 114,0
13º) Japi (RN) 113,3
14º) Cumaru do Norte (PA) 113,2
15º) Tibau (RN) 112,6
16º) Itaju do Colônia (BA) 111,0
17º) Ilha das Flores (SE) 109,5
18º) Anapu (PA) 107,1
19º) Senador José Porfírio (PA) 106,9
20º) São José da Coroa Grande (PE) 106,5
21º) Novo Progresso (PA) 106,1
22º) Wenceslau Guimarães (BA) 103,3
23º) Ibicuitinga (CE) 102,7
24º) Santa Cruz Cabrália (BA) 102,6
25º) Ilha de Itamaracá (PE) 102,5
26º) Bannach (PA) 101,8
27º) Cajuri (MG) 100,8
28º) Itaitinga (CE) 99,9
29º) Junco do Maranhão (MA) 99,5
30º) Barro Preto (BA) 98,2 mortes violentas por cada 100 mil habitantes
Para terminar:
Samira Bueno, diretora do Fórum de Segurança, faz uma comparação que deixa claro o absurdo que vivemos:
“Em 20 anos, entre 1955 e 1975, morreram 1,1 milhão de pessoas no Vietnã. No Brasil, em 20 anos, entre 1995 e 2015 morreram 1,3 milhão.”
Daniel Cerqueira , pesquisar do Ipea, faz outra comparação igualmente alarmante:
“Apenas em três semanas são assassinadas no Brasil mais pessoas do que o total de mortos em todos os ataques terroristas no mundo nos cinco primeiros meses de 2017 e que envolvem 498 casos, resultando em 3.314 vítimas fatais.”
É isso. Este post sobre os tristes números da violência no Brasil e será atualizado na medida em que as organizações divulguem novos números.