Semana de ‘apenas’ 4 dias ganha força com aumento da produtividade

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Pesquisa vai analisar desempenho e qualidade de vida dos funcionários; jornada de trabalho será analisada sob novas perspectivas

Entre os meses de junho a dezembro deste ano, o Reino Unido vai realizar o maior experimento de sua história sobre redução de jornada de trabalho e qualidade de vida. A intenção é testar a eficácia de uma semana com apenas 4 dias de atividades, sem corte de salários.

A experiência irá averiguar se a produtividade dos funcionários vai ser mantida, cairá ou vai aumentar trabalhando apenas 4 dias por semana. Ao mesmo tempo, irá analisar se houve acréscimo considerável na qualidade de vida dos participantes.

A análise irá envolver mais 3,3 mil trabalhadores de 70 empresas da Grã-Bretanha, de diferentes segmentos como lojas, restaurantes, áreas de recrutamento, desenvolvedores de softwares, entre outros. A ação será coordenada por pesquisadores das universidades britânicas de Cambridge e Oxford e do Boston College, nos Estados Unidos.

Menos presença, mais entrega

Para o consultor de empresas Eduardo Ferraz, que tem 35 anos de experiência e escreveu 5 livros sobre gestão de pessoas, o estudo do Reino Unido deve comprovar uma realidade que ele presencia no Brasil.

Se o funcionário atua por metas e não fica restrito à duração da jornada, ele pode se beneficiar e também a empresa que ele presta serviços. Afinal, não importa se o colaborador trabalha 40 horas por semana. O que conta de fato é o resultado que ele entrega. Se cumprir as atividades estipuladas, por ambas as partes, em 3 ou 4 dias, está resolvido. Isso é bom para o empregado e ótimo para as empresas, que terão pessoas cada vez mais pessoas engajadas e focadas nos resultados”, explica.

Eduardo Ferraz
Eduardo Ferraz

Contudo, Ferraz salienta que esse tipo de relação funciona muito bem para quem tem disciplina, atua com trabalhos de intelecto que podem ser feitos à distância, têm metas muito bem definidas e fazem as tarefas sem a necessidade de ser cobrado o tempo todo.

No livro Por que a gente é do jeito que a gente é? (Selo Planeta Estratégia, da Editora Planeta, 224 págs., R$ 49,90), o consultor de empresas aborda com bom humor os diferentes estilos de personalidade humana, cita exemplos reais e mostra onde as pessoas podem se destacar no trabalho, respeitando suas individualidades.

Atividades braçais que dependem da presença física ou quem deve cumprir jornada estabelecida não se enquadram. Por isso, é fundamental conhecer muito bem as demandas da companhia e as próprias habilidades para não prometer uma coisa e entregar outra”, complementa.

Exemplo em Curitiba

No Grupo Ruggi Administradora de Condomínios, que atua em Curitiba e Região Metropolitana, a situação do Reino Unido já é vivenciada na prática. A semana reduzida já existe há cerca de dois anos, os funcionários têm mais tempo livre para cuidar de suas atividades pessoais, a produtividade foi mantida e os salários não foram alterados.

Com uma estrutura adaptável e sistemas de tecnologia que operam online, a empresa já atuava remotamente antes da pandemia. A chegada do Coronavírus acelerou os trabalhos à distância e tudo foi realizado em home office; desde a comunicação com os moradores até as assembleias dos condomínios.

Em determinados períodos do mês – quando as tarefas estão em dia e não há situações emergenciais – 90% da equipe consegue encerrar o expediente às 12h de sexta-feira. O time é muito organizado, a produtividade foi mantida e por isso os funcionários ganham mais tempo para cuidar de suas vidas pessoais”, explica o diretor Maurilei Ruggi.

Atenção às leis

No Brasil existem regras sobre a duração do trabalho, como o artigo 7º, inciso XIII da Constituição Federal, que limita jornada a 8h por dia e 44h semanais, salvo ajustes de compensação.

Acordo por convenção coletiva ou ajustes individuais entre empregado e empregador pode estabelecer jornada de 12 horas, seguidas de 36 horas de descanso. Mas se a situação de trabalho for enquadrada no artigo 62 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em que o trabalhador externo – cujas atividades são incompatíveis com o controle de jornada, exercício de cargo de confiança e teletrabalho – não se submeterá a regras de duração como limites diário e semanal, intervalo, labor noturno, entre outros.

Nova realidade

As solicitações para reduzir a semana de trabalho ganharam força nos últimos anos em vários países, devido aos trabalhos remotos iniciados com a pandemia. A Suécia, por exemplo, adotou um modelo de 6 horas diárias. A Finlândia testou uma jornada de quatro dias e os resultados foram positivos.

O projeto piloto da pesquisa que será realizada no Reino Unido foi desenvolvido pelo 4 Day Week Global, grupo de especialistas que defendem a semana mais curta e que farão testes equivalentes em países como Irlanda, EUA, Nova Zelândia, Canadá e Austrália no futuro.

Segundo Joe O’Connor, CEO da 4 Day Week, “à medida que emergimos da pandemia, mais e mais empresas estão reconhecendo que a nova fronteira para a concorrência é a qualidade de vida, o que faz o trabalho com uma jornada reduzida e focado na produção ser uma forma de dar a elas uma vantagem competitiva”.

Caberá aos pesquisadores das universidades de Cambridge, Oxford e do Boston College analisar os resultados em empresas centrais do capitalismo.

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