Tiroteio em escola na cidade de Cambé, no Paraná, liga novo sinal de alerta em toda a sociedade

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Para Nathalia de Paula, psicanalista clínica e educadora parental, práticas como o bullying e a falta de um ambiente familiar emocionalmente estável podem ser o motivo por trás do crescimento desse tipo de crime

A violência nas escolas do Brasil tem se tornado uma preocupação crescente, resultando em uma triste realidade de massacres que antes eram frequentemente associados aos Estados Unidos.

Esse problema alarmante revela a urgência de abordar questões sociais, educacionais e de segurança que contribuem para o aumento da violência entre os estudantes. A fim de compreender e combater esse problema, é necessário examinar suas causas e promover medidas preventivas eficazes, visando a garantia de um ambiente escolar seguro e propício ao desenvolvimento saudável dos alunos.

De acordo com Nathalia de Paula, psicanalista clínica e educadora parental especializada em terapia emocional de famílias e terapia integrativa do sono infantil, existem várias pesquisas e estudos que buscam entender os motivos pelos quais atiradores escolhem as escolas como alvo em casos de tiroteios. “Ainda assim, é importante ressaltar que o comportamento desses criminosos é complexo e multifacetado, não havendo uma explicação única que se aplique a todos os casos. No entanto, alguns fatores que contribuem para tornar as escolas alvos desse tipo de violência podem ser destacados. O fácil acesso às unidades de educação, por exemplo, aumenta a probabilidade desses ataques causarem danos significativos e é um problema que precisa ser solucionado”, relata.

A vulnerabilidade das vítimas também é apontada como um ponto que facilita esse tipo de crime. “As escolas abrigam, principalmente, crianças e adolescentes, que podem ser considerados alvos mais fáceis de serem atingidos sem resistência. Além disso, a presença de estudantes pode gerar maior cobertura midiática e atrair mais atenção para o atirador, que muitas vezes busca reconhecimento e notoriedade”, alerta.

Nathalia de Paula

A especialista aponta que experiências traumáticas e a identificação com outros atiradores faz com que esses massacres sejam cada vez mais recorrentes no Brasil. “Alguns desses indivíduos podem ter vivenciado episódios negativos relacionados à escola, como bullying, exclusão social ou problemas acadêmicos. Isso pode influenciar diretamente suas motivações, levando-os a buscar vingança ou chamar a atenção para suas dificuldades. Ainda, em alguns casos, os criminosos podem se identificar com atiradores de outros tiroteios em escolas, vendo-os como figuras de inspiração ou como parte de um grupo ao qual desejam pertencer. Essa identificação também pode influenciar suas escolhas de alvo”, pontua.

Diante dessa realidade, várias iniciativas foram tomadas pelas autoridades de segurança, pelo setor público, pela imprensa e pela sociedade, cada um atuando em seu setor para buscar a prevenção. “A imprensa, por exemplo, decidiu não dar notoriedade aos praticantes desse tipo de crime, exatamente para evitar que a imagem dos criminosos seja associada a heróis por outros indivíduos. Retirar essas imagens dos noticiários faz com que aqueles que possam ter distúrbios psiquiátricos e buscam o sucesso por meio desses atos sintam-se desencorajados a praticá-los”, revela Nathalia.

Segundo a psicanalista, a saúde mental e a prevenção ao bullying são temas presentes em muitos casos relatados no Brasil e nos Estados Unidos. “É de extrema importância que tanto a escola quanto as famílias estejam atentos ao comportamento dos adolescentes, pois se trata de um período difícil do desenvolvimento humano, onde as emoções estão à flor da pele. É nessa fase que a personalidade, autoestima e sociabilidade do adolescente estão sendo formadas. Portanto, estar atento a mudanças repentinas de comportamento, oscilações bruscas de humor, isolamento social e nas relações e preferências dos grupos ao qual os filhos pertencem é fundamental”, alerta.

O caso mais recente aconteceu na Escola Estadual Professora Helena Kolody em Cambé, no Paraná, onde a família do suposto autor dos crimes relatou que o mesmo sofria de esquizofrenia e fazia uso de medicamentos.

No entanto, para a especialista, é importante destacar que a grande maioria das pessoas com esquizofrenia não apresenta comportamentos violentos. “Na verdade, estudos mostram que pessoas com essa condição têm mais probabilidade de serem vítimas de violência. É crucial evitar estereótipos e estigmas associados à esquizofrenia, pois isso pode levar a um tratamento injusto e à marginalização das pessoas que vivem com o transtorno. Ainda assim, pessoas com esse quadro que apresentaram comportamentos violentos ou agressivos antes do início do transtorno, ou que sofreram abusos ou negligência, podem ter um risco maior de repetir esses comportamentos durante episódios psicóticos”, declara.

A terapeuta reforça a importância não só das famílias, mas também das instituições de ensino e das autoridades. “A família desempenha um papel central na saúde emocional do indivíduo, seja criança, adolescente ou adulto, sendo necessário um ambiente emocionalmente estável, onde o jovem possa crescer com suas emoções sendo acolhidas e aceitas. Além disso, a escola tem o dever de alertar os pais e responsáveis quando perceber comportamentos inadequados para a idade do aluno e de adotar uma política rígida contra o bullying dentro de suas dependências. Ainda, programas de assistência que proporcionem dicas de parentalidade consciente estão na pauta de vários profissionais e políticos como uma necessidade urgente em políticas públicas”, pontua.

De acordo com Nathalia, adotar esses cuidados será fundamental para alcançar uma diminuição radical de massacres desse tipo. “É um meio efetivo de garantir uma sociedade mais emocionalmente engajada, saudável mentalmente e consciente de seu papel como cidadão e como uma ferramenta para transmitir esses ensinamentos por várias gerações. Dessa forma, esperamos que, num futuro próximo e próspero, possamos deixar esse tipo de notícia para trás e ler nos jornais que as escolas são, cada vez mais, locais de enriquecimento da vida, da ciência e do ser humano como um todo”, finaliza.

Sobre Nathalia de Paula

Nathalia de Paula é psicanalista clínica e educadora parental especializada em terapia emocional de famílias e terapia integrativa do sono infantil. Além disso, ela é co-fundadora e gestora do Instituto Lumina Educacional desde 2017, uma escola de ensino regular com educação infantil e fundamental. Para mais informações, acesse @nathaliadepaula.parental ou @nasuapsique ou pelo site https://nathaliadepaula.com

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