Relatos de violência doméstica cresceram 211% no Twitter no período da pandemia.
Pesquisa realizada pela Decode, em parceria com o Instituto Avon, revela os tipos de violência contra mulher que mais cresceram no digital nos últimos dois anos.
A pesquisa “Muito além do Cyberbullying: a violência real do mundo virtual contra as meninas e mulheres antes X depois da pandemia” foi realizada pela Decode, em parceria com o Instituto Avon. Pensando que a pandemia foi um evento de grande impacto global, que gerou diversas mudanças sociais, o estudo evidencia o crescimento de expressões e comportamentos relacionados à violência contra meninas e mulheres no ambiente digital.
De modo geral, grande parte dos dados foram coletados entre o período de julho de 2019 até fevereiro de 2021, sendo suas fontes 14.190 mil vídeos de sites pornográficos, 9.299 mil matérias de portais de notícias e 22.518 mil menções advindas tanto do Facebook quanto do Twitter. Os relatos das vítimas de violência no ambiente digital foram classificados em 8 tipos e apresentam um aumento de menções de assédio, violência doméstica e violência virtual.
Através de uma análise de menções no Twitter, percebeu-se que houve um crescimento maior que 211% no volume de relatos de violência doméstica, feitos por vizinhos das vítimas, passando de 7.186 para 22.323 relatos. Já no Facebook, das menções relacionadas à violência doméstica, 43% se referem à violência física, enquanto 29% à violência verbal, 22% à violência psicológica e 6% a tentativas de sexo não consentido. O sentimento das vítimas é, proeminentemente, medo (36%), mas também manifestaram sentimentos de dor e tristeza (20%), desespero (18%), culpa (17%) e angústia (9%).
A pesquisa também revelou dados mais aprofundados sobre os tipos de violência de gênero no digital, trazendo à tona que o assédio virtual é o mais usual entre eles, representando 38% das menções coletadas no Facebook, sobre o tema. Além disso, foi possível observar que, durante a pandemia, os relatos de assédio foram os que mais cresceram nas redes, sendo que 78% destes ocorreram em transportes públicos: 90,4% em ônibus e 9,6% em metrô/trem. Porém, além desse tipo de violência, a perseguição/stalking, o vazamento de conteúdo íntimo e as ameaças virtuais também foram recorrentes nas menções da rede social citada anteriormente. Confira abaixo:
Tipos de violência no digital mais recorrentes
- 38% – Assédio virtual
– 53% Comentários sexuais sem consentimento
– 30% Envio de fotos íntimas sem consentimento
– 17% Comentários de ódio após rejeição pela vítima - 32% – Perseguição/Stalking
– 84% Ex-companheiros ou ex-cônjuges
– 10% Parceiros atuais
– 6% Desconhecidos
- 24% – Vazamento de conteúdo íntimo
- 6% – Ameaças virtuais
– 39% Revenge porn – compartilhamento de conteúdo nas redes
– 35% “Sextortion” – pedem dinheiro para não compartilhar conteúdo explícito
– 26% Coagidas a fazer favores sexuais online
Das vítimas que sofreram algum desses ataques no digital, 35% delas desenvolveram medo de sair de casa, 21% excluíram suas contas em redes sociais e 30% relataram graves efeitos psicológicos pós-violência.
Com os dados apresentados acima, justifica-se o crescimento de 76% no volume de matérias publicadas sobre violência contra a mulher no Brasil. Estima-se que esse número passou de 46 mil para 81 mil matérias publicadas, sendo que os 3 casos que mais repercutiram foram:
- Caso DJ Ivis – 7.020 matérias produzidas e 3.5M de interações nas redes
- Caso Mari Ferrer – 1.146 matérias produzidas e 2.7M de interações nas redes
- Caso da garota de 10 anos que conseguiu ter o direito de abortar, após ser estuprada – 1.110 matérias produzidas e 2.3M de interações nas redes
A relação entre a violência contra a mulher e a pornografia
Também foram abordadas no estudo as principais métricas de comportamento relacionadas ao consumo de conteúdo pornográfico no geral e de conteúdo pornográfico atrelado à violência contra meninas e mulheres.
Comparando o período de pandemia com o período pré-pandemia, o volume de vídeos pornôs com o tema “família” cresceu 18% nos sites pornográficos. Esse movimento também é observado nos vídeos pornôs postados em transportes públicos, que aumentaram seu volume em 25% no mesmo período de tempo.
Por fim, vemos que o consumo de pornografia acompanhou o aumento da violência contra a mulher, uma vez que, antes da pandemia, os sites de pornografia recebiam 1.7 bilhões de visitas e, durante a pandemia, esse número saltou para 2.9 bilhões de visitas, apresentando um crescimento maior que 35%.
A pandemia fez com que muitas atividades cotidianas tivessem que ser rapidamente adaptadas ao mundo virtual. Esse fenômeno acabou influenciando no aumento de uso dos meios digitais, o que também aumenta os riscos da disseminação de crimes virtuais, como pudemos observar muito claramente na pesquisa apresentada.