Aporofobia é uma realidade nas redes sociais
*Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados
O preconceito é uma realidade insidiosa que permeia nossa sociedade. Ele se manifesta de diversas formas, desde discriminação racial e de gênero até intolerâncias relacionadas a idade, aparência física, orientação sexual, classe social, religião e origem ética.
Mas, afinal, o que é preconceito? Uma manifestação de julgamento prévio e injusto, ou negativo, em relação a indivíduos, ou a grupos, baseado em características intrínsecas, muitas vezes alheias ao caráter ou habilidades.
As raízes do preconceito frequentemente residem em processos históricos, culturais e sociais, a transmissão de ideias discriminatórias ao longo de gerações contribui para a perpetuação dessas intolerâncias. Consequentemente, o preconceito pode ser enraizado em sistemas sociais, perpetuando desigualdades estruturais.
Não é apenas um problema individual, tem ramificações profundas na sociedade, podendo resultar em disparidades econômicas, oportunidades limitadas e, em última análise, na exclusão de grupos inteiros. A relação entre o preconceito e a violência é multifacetada. O prejulgamento pode alimentar atitudes violentas de diversas maneiras, contribuindo para a criação de um ambiente propício a hostilidade verbal e até física.
Em um período em que a liberdade de expressão é encorajada, as pessoas estão quase “literalmente” vivendo por meio das redes sociais e o mundo seria dos ideais, corpo ideal e riqueza extrema, temos visto um crescente exponencial de aporofobia. Palavra criada pela filósofa espanhola Adela Cortina, que tem como significado “aversão ao pobre”.
A aporofobia é um desafio que requer atenção e ação coletiva, uma vez que o respeito pela dignidade de todos, independentemente de sua situação econômica, é fundamental para que possamos conviver em sociedade.
As redes sociais têm o potencial de gerar a aporofobia de diversas maneiras, muitas das quais estão relacionadas a disseminação de estereótipos, desinformação e criação de bolhas sociais.
A disseminação de estereótipos negativos sobre pessoas em situação de pobreza, nas redes sociais, gera a formação de preconceito. Imagens, memes ou mensagens podem reforçar uma imagem distorcida. Já a comparação social destrutiva existe quando as redes sociais exibem padrões de vidas ideais ou irreais, podendo incentivar a comparação social prejudicial, alimentando ainda mais a discriminação de quem não está dentro dos padrões estabelecidos.
Já Agora as bolhas sociais podem levar a falta de exposições a diferentes realidades, devido aos algoritmos utilizados pelas plataformas digitais onde os usuários são expostos, principalmente, a opiniões semelhantes as suas. Estes algoritmos, geradores destes isolamentos, são os responsáveis pelo aumento de julgamentos e preconceitos.
Temos um problema, social e cultural, gerado principalmente por meio de instrumentos tecnológicos, ou seja, as famosas plataformas digitais. Portanto, precisamos urgentemente de uma regulamentação única que deve ser aplicada a todas as plataformas, para conter situações de preconceito. Não podemos ficar mais nas mãos dos “moderadores” das plataformas, pois tais serviços não se mostram efetivos. A prova disso é o aumento incessante de post, vídeos e comentários preconceituosos, que vemos todos os dias, de forma incessante.
Patricia Punder, é advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.
Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil). www.punder.adv.br
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