Puberdade precoce: incidência de casos sobe no mundo
Causas estão ligadas a aspectos genéticos e também multifatoriais, como obesidade, exposição a desreguladores endócrinos e crianças nascidas pequenas para idade gestacional
A puberdade está batendo mais cedo na porta das crianças e adolescentes ao redor do mundo, incluindo no Brasil. Um estudo produzido pela clínica pediátrica do hospital de Bonn, na Alemanha, identificou um aumento de 30% a 40% nos casos de puberdade precoce no país entre 2020 e 2021. Outro levantamento, publicado no JAMA Network Open, avaliou mais de 70 mil mulheres nascidas entre 1950 e 2005 e apontou que o percentual das meninas que tiveram menarca com menos de 11 anos dobrou, passando de 8% para 16%.
O principal sinal de alerta é o desenvolvimento de tecido mamário nas meninas antes dos 8 anos de idade. Nos meninos, ocorre aumento dos testículos, considerado precoce se antes dos 9 anos. Em ambos, podem surgir pelos pubianos e axilares, odor, acne, aumento da oleosidade da pele, além de mudança de comportamento. Esse quadro se torna motivo de preocupação para os pais, já que as alterações na linha do tempo do desenvolvimento reprodutivo podem ter sérias consequências para a saúde das crianças no futuro, como baixa estatura, gravidez precoce e inadequação social.
Segundo Maylla Moura Cabral, médica endocrinologista pediátrica da clínica Atma Soma, a puberdade precoce é causada pelo aumento antecipado dos hormônios sexuais no sangue. “Isso ocorre porque o eixo hormonal foi ativado mais cedo e, com isso, as glândulas, hipófise, ovários (nas meninas) e testículos (nos meninos) passam a produzir hormônios sexuais precocemente”.
Tecnicamente, o início da puberdade central acontece quando o hipotálamo secreta o hormônio liberador de gonadotropina (GnRH), conhecido por ser o principal regulador do eixo reprodutivo. Esse, por sua vez, estimula a glândula pituitária a produzir o hormônio luteinizante e o hormônio folículo-estimulante, caracterizando o quadro hormonal.
Causas
As causas da puberdade precoce são de ordem genética ou multifatorial. “Ela tende a surgir mais cedo em meninas cujas mães menstruaram com pouca idade ou naquelas com relato de puberdade precoce na família paterna. Também podem apresentar essas características crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional, tiveram baixo peso ao nascer ou sofreram obesidade na infância”, destaca Maylla.
Além disso, conforme a médica, a disfunção também pode acontecer devido à exposição da criança a algum tipo de hormônio presente em certos tipos de medicamentos, principalmente em cremes e gel.
Maylla complementa ainda que uma das hipóteses que pode antecipar a puberdade está ligada ao contato com os chamados desreguladores ou disruptores endócrinos. “São substâncias com capacidade para alterar o funcionamento do sistema endócrino-hormonal encontradas em agrotóxicos, plásticos e alguns cosméticos”.
Tratamento
A endocrinologista pediátrica ressalta que o tratamento da condição depende dos fatores causadores do problema. “No caso da puberdade precoce central, ele consiste em injeções mensais, trimestrais ou semestrais de um hormônio que faz o quadro regredir. Essa mesma medicação funciona como um freio temporário no desenvolvimento do esqueleto, melhorando a estatura final das crianças”.
A médica complementa que a expectativa é manter o tratamento até por volta dos 12 anos de idade óssea em meninas e 13 nos meninos. “Após essa idade, suspendem-se as injeções, liberando o corpo para se desenvolver naturalmente na hora certa”.
Em outras situações, como o de puberdade precoce periférica, são adotadas diferentes medicações. “Em alguns casos a cirurgia também é indicada para remover a causa do problema se ela for ligada à presença de tumores”, conclui.
Sobre a Atma Soma
Liderada pela endocrinologista Alessandra Rascovski, a Atma Soma tem foco na prática da medicina de soma, unindo várias especialidades em prol dos pacientes, respeitando a sua individualidade e oferecendo a ele uma vida longa e autônoma.
A clínica conta com um time de médicos e profissionais assistenciais de diversas áreas como endocrinologia, urologia, ginecologia, nutrição, gastroenterologia, geriatria, dermatologia, estética, medicina oriental e ayurveda, com olhar dedicado à prática do cuidado focado no eixo neurocognitivo, metabólico e hormonal.