A cárie é uma doença que pode causar dor de dente, infecções dentárias, abscesso, perda dentária, sensibilidade e muitos outros sintomas e consequências para a saúde bucal. Porém, a cárie também pode impactar a saúde geral das pessoas.
Dados
Dados da Pesquisa Nacional da Saúde Bucal 2023 indicam que adultos no Brasil têm, em média, 10,7 dentes acometidos por cárie. Entre aqueles do grupo de 35 a 44 anos, aproximadamente metade apresenta um ou mais dentes com cárie não tratada. A maioria desses casos concentra-se nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
No caso das crianças de 5 anos com cárie não tratada, representa o percentual do índice ceo-d (medida epidemiológica em Odontologia usada em cárie dentária em dentes decíduos) de 78,38%.
A presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Patrícia Valéria C. Georgevich, afirma que a cárie infantil evolui rapidamente e pode comprometer os dentes permanentes, prejudicando a mastigação e a fala, além de causar irritabilidade, dificuldade de concentração e alteração no comportamento.
Infância e a cárie
Nas crianças, a cárie afeta a saúde geral, causando dificuldade para mastigar e ingerir alimentos, alterações no sono, queda no rendimento escolar, atraso no ganho de peso, entre outros quadros. A profissional alerta que a cárie infantil não é apenas um problema dental, mas de saúde pública.
A Dra. Patrícia explica que os principais riscos da cárie na criança incluem a possibilidade de hospitalização em casos graves, infecções que podem se espalhar pelo rosto e pescoço e, em situações extremas, até mesmo infecção generalizada.
O membro da Câmara Técnica de Saúde Coletiva do CROSP, Dr. Fábio Spinosa, diz que o combate à cárie tem avançado no Brasil por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), que desenvolve atividades educativas e escovação supervisionada em escolas da rede pública. Para o profissional, a fluoretação das águas também se faz necessária para o combate à cárie.
Social
“O Brasil Sorridente reforça a prevenção com campanhas, distribuição de kits de higiene e aplicação tópica de flúor. Essas ações ampliam o acesso ao cuidado e reduzem a incidência da doença”, observa o Dr. Fábio.
O profissional afirma que as pessoas não devem se descuidar da higienização. Para isso, devem ser feitas escovações no mínimo de três a quatro vezes ao dia, pela manhã, após o almoço, final da tarde e antes de dormir, comendo ou não. Mesmo assim, o cirurgião-dentista alerta que existem grupos que podem ter mais chances de ter cárie, entre eles os que apresentam má formação dentária, má oclusão, assim como os que têm uma dieta rica em açúcar e os que não realizam higienização adequada.
A doença e suas complicações
O presidente da Câmara Técnica de Dentista do CROSP, Dr. Sergio Brossi Botta, explica que a cárie é uma doença multifatorial que resulta da interação entre bactérias presentes na boca e restos de alimentos fermentáveis na superfície do dente. O cirurgião-dentista reforça que a cárie pode ser desenvolvida por questões envolvendo maus hábitos e condições específicas.
“A doença cárie é, primariamente, uma disbiose, resultado de um desequilíbrio na saúde bucal causado por hábitos de vida e fatores individuais, e não por contágio direto de pessoa para pessoa no sentido de uma doença infecciosa comum”, esclarece o especialista.
Os fatores socioeconômicos impactam o surgimento de cárie, principalmente em cenário de pessoas que vivem em famílias de baixa renda ou em áreas com escasso acesso a serviços de saúde bucal. O nível de instrução também influencia o acesso à água fluoretada e aos produtos de higiene.
Dr. Sergio Brossi Botta alerta que os sintomas para quem tem cárie aparecem de forma diferente, a depender do grau da lesão. Quando a lesão está em estágio inicial, no caso de estar ainda no esmalte dental, não há sintomas perceptíveis pelo paciente, sendo apenas o cirurgião-dentista capaz de diagnosticar a lesão. Já no caso de lesão aumentada, o paciente pode perceber uma mancha escura no dente. Já quando a lesão atinge o tecido dentinário, o paciente pode sentir dor espontânea ou causada durante o consumo de alimentos.
Quem tem lesões cariosas deve procurar um cirurgião-dentista para que o diagnóstico correto seja feito e o tratamento mais adequado para cada caso seja realizado. O tratamento da lesão de cárie longo no início pode facilmente restaurar os dentes, mas, se a lesão progredir e o paciente negligenciar a doença, a cárie pode ocasionar a perda do dente.
O tratamento da lesão de cárie pode ser desde o não invasivo (aplicação de flúor), o micro invasivo e o minimamente invasivo, ou intervenções mais invasivas como restaurações, tratamento de canal, coroa e, em último caso, extração.
Flúor: Para lesões de cárie iniciais, o cirurgião-dentista pode recomendar o uso de flúor (via pastas de dente, vernizes fluoretados, géis ou enxaguantes) para remineralizar o esmalte dental e reverter o processo.
Restaurações: Quando a lesão de cárie é mais profunda, o cirurgião-dentista remove parcialmente o tecido cariado e preenche a cavidade com materiais como resina (da cor do dente) ou outros materiais bioativos.
Tratamento de canal: indicado quando as lesões de cárie atingem a polpa (nervo) do dente. O dentista remove a polpa infectada, limpa o canal e o preenche.
Coroas ou próteses: Podem ser necessárias em casos de lesões de cárie muito extensas, para reconstruir a estrutura do dente após a remoção do tecido cariado e o tratamento de canal, especialmente quando há perda significativa da estrutura dental.
Saúde geral e o risco de morte
Além da saúde bucal, a doença cárie afeta a saúde geral, podendo causar complicações que se espalham para o coração, cérebro, corrente sanguínea, angina e endocardite. A endocardite bacteriana é causada por bactérias que podem entrar na corrente sanguínea e alcançar o revestimento interno do coração, o que pode causar inflamação grave e fatal. A Angina de Ludwig é uma infecção bacteriana rara, porém grave e de rápida evolução. Infecções no sistema nervoso central se espalham para os seios da face, atingem o cérebro, geram complicações como a meningite e podem causar a morte.
Sobre o CROSP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente.
Hoje, o CROSP conta com mais de 175 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.