“Achei que estivesse doente, mas era a gravidez da minha esposa”: Por que alguns homens desenvolvem sintomas de gestação?
Enjoos, tonturas e até ganho de peso: a chamada “gravidez solidária” desafia futuros pais com sintomas típicos da gestação
A paternidade pode surpreender de formas inusitadas, incluindo sintomas físicos inesperados. A chamada Síndrome de Couvade, ou “gravidez solidária”, faz com que futuros pais desenvolvam enjoos, tonturas e até ganhem peso, em um reflexo físico do envolvimento emocional com a gestação de suas parceiras.
Segundo a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, a Síndrome de Couvade não é considerada um transtorno mental, mas uma resposta emocional que se manifesta fisicamente. “Embora a prevalência não seja alta, cada vez mais casos são observados entre pais modernos, que vivenciam intensamente a experiência da gravidez junto das parceiras”.
Um pai de primeira viagem, que prefere não se identificar, descreve a surpresa que sentiu ao vivenciar esses sintomas:
“Passei por tonturas, enjoos, falta de equilíbrio e até azia. Fui ao médico, e ninguém sabia o que eu tinha. Era Síndrome de Couvade, nem sabia que isso era possível. O mais difícil é que, em vez de apoiá-la, sinto que ela acaba tendo que cuidar de mim também”.
Depressão perinatal paterna
Pesquisas realizadas pela American Journal of Men’s Health em 2020 mostram que cerca de 10% dos homens podem sofrer também de depressão pós-parto, especialmente quando suas parceiras também apresentam a condição.
“Há poucos anos, a ciência começou a investigar se o homem poderia, durante a gestação e pós-parto das suas parceiras, apresentar sintomas de depressão. Essa condição é uma realidade que precisa ser mais discutida. Identificar e tratar esses sintomas é fundamental para o bem-estar de toda a família”, alerta a cientista.
Pré-natal para os pais
O pré-natal do pai, então, é essencial para garantir que ele esteja preparado emocionalmente para a chegada do bebê. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou em 2020 a necessidade urgente de mais pesquisas para explorar a ansiedade, o estresse e outras alterações emocionais significativas nos homens durante o período perinatal.
“Assim como existe o pré-natal da mãe, há também o pré-natal do pai. Esse pré-natal é um direito e há, inclusive, recomendações de como realizá-lo com material da própria Secretaria de Saúde”, aponta a psicóloga perinatal.
Como os pais podem enfrentar essa condição?
Para homens que experimentam sintomas de Síndrome de Couvade ou depressão pós-parto, Rafaela Schiavo sugere as seguintes dicas:
- Procure apoio psicológico: Entender e tratar esses sintomas é fundamental;
- Participe do pré-natal: O pré-natal do pai é uma ótima maneira de se preparar emocionalmente;
- Comunique-se com sua parceira: Uma conversa aberta pode aliviar o estresse;
- Busque redes de apoio: Conversar com outros pais que passaram por situações semelhantes pode ajudar.
“Qualquer pessoa que estiver nessa transição precisa de avaliação psicológica para verificar seu estado emocional. Há altas chances de uma parcela significativa dessa população necessitar de apoio devido aos efeitos emocionais dessa fase”, conclui a especialista.
Quem é Rafaela Schiavo?
Profª-Dra. Rafaela de Almeida Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.
Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.
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